segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Estado Intermediário da Alma




Dentro da escatologia individual existe o chamado de Estado Intermediário. Todo cristão crê na ressurreição e no juízo futuro, também todo cristão crê em um estado intermediário. Todos creem que há um estado de existência entre a morte e a ressurreição, e que a condição dos mortos durante esse intervalo é diferente do que será depois da ressurreição.

Existem divergências entre os cristãos sobre este estado, não são divergências quanto a realidade de um estado intermediário e sim divergências acerca da natureza desse estado.

A DOUTRINA PROTESTANTE - A doutrina protestante comum referente a esta questão é que “a alma dos crentes é, ao morrer, aperfeiçoada em santidade, e passa imediatamente para a glória; e seu corpo, embora unido a Cristo, repousa em uma sepultura até a ressurreição”. Segundo esse conceito, o estado intermediário, no que diz respeito aos crentes, é de grande exaltação e bem-aventurança. E é perfeitamente coerente com a crença de que, depois da segunda vinda de Cristo e da ressurreição dos mortos, o estado da alma será muito mais exaltado e bem aventurado. i

A DOUTRINA DO SONO DA ALMA - O sono da alma é a doutrina de que a alma existe, durante o intervalo entre a morte e a ressurreição, em um estado de repouso inconsciente, pressupõe, propriamente, que a alma é uma substância distinta do corpo. Portanto, ela deve ser distinguida da teoria materialista, a qual pressupõe que, como a matéria em certos estados e combinações exibe os fenômenos do magnetismo ou da luz, igualmente, em algumas combinações, exibe o fenômeno da vida, e, noutras, o fenômeno da mente, e, portanto, a atividade vital e mental são tanto o resultado ou o efeito das disposições moleculares como quaisquer operações físicas do mundo externo. ii

O principal ponto que aparentemente favorece a doutrina do sono da alma é que constantemente a morte é chamada de sono. (1Ts 4.14). Mas não podemos considerar esse ponto, tendo em vista, que fisicamente, uma pessoa morta possui claramente o aspecto de uma pessoa que dorme. Portanto, não é de se estranhar que essa expressão seja tão usada. Jesus mesmo usou essa expressão para falar do estado de Lázaro (Jo 11.11). Mas são expressões usadas para descrever o estado do corpo e não da alma.

Uma outra refutação ao estado de sono da alma é que um intervalo do qual a alma fosse inconsciente não teria existência para ela, sendo assim, a alma do crente entraria no céu imediatamente depois de sua morte.

A DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA ROMANA – Embora os romanistas rejeitem a doutrina de um estado intermediário, no sentido da Igreja antiga, não obstante dividem o mundo no qual as almas humanas entram, na morte, em muitas e diferentes seções.

O Limbus Patrum – Sustentam que a alma dos justos, antes da vinda de Cristo, desceram ao Sheol, onde permaneceram em estado de expectativa aguardando a vinda do Messias. Quando Cristo veio e consumou sua obra de redenção, morrendo na cruz, ele desceu ao Hades, ou ao submundo, onde as almas dos patriarcas estavam confinadas, libertou-as de seus cativeiros e levou-as em triunfo para o céu. iii

O Limbus Infantum – Este é o nome dado ao lugar e estado pertencente às almas das crianças falecidas não batizadas. A doutrina da Igreja de Roma sobre este tema é que as crianças que morreram sem o batismo, não são admitidas no reino dos céus. Jamais participarão dos benefícios da redenção. Esta doutrina é explicitamente declarada nos símbolos dessa Igreja e defendida por seus teólogos. iv

O Inferno – O inferno é definido pelos romanistas como sendo o lugar ou estado no qual os anjos apóstatas, e os homens que morreram em um estado de pecado mortal, ou, como também se expressa, da impenitência final, sofrem para sempre o castigo de seus pecados. v

O Céu – O céu, em contrapartida, é o lugar dos bem-aventurados, onde Deus está; onde Cristo está entronizado em majestade, e onde os anjos e os espíritos dos justos aperfeiçoados estão. Os que entram no céu estão de posse do sumo bem. Portanto, é o céu o mais elevado sentido do termo, no qual se diz que os santos entram. vi

O Purgatório – Segundo os romanistas, todos os que morrem na paz da Igreja, mas não são perfeitos, entram no purgatório. Com respeito a este lugar, eles ensinam: Que é um lugar de tormento; que a duração e a intensidade das dores purgatoriais são proporcionais à culpa e a impureza dos sofredores; que não há limite algum conhecido nem definido para a permanência da alma no purgatório, exceto o dia do juízo; que as almas no purgatório podem ser auxiliadas, ou seja, que seus sofrimentos podem ser aliviados ou sua duração diminuída pelas orações dos santos, especialmente pelo sacrifício da missa; que o purgatório está sob o poder das chaves, ou seja, que é a prerrogativa das autoridades da Igreja, à discrição delas, redimir total ou parcialmente a pena dos pecados sob a qual estão sofrendo as almas ali detidas. vii

O maior argumento que podemos usar contra a doutrina da igreja romanista é que de fato essa doutrina não é ensinada em lugar algum das Escrituras, não só carece de apoio como se opõe às mais claras e importantes revelações.

Além disso, essa doutrina se apoia no mérito das boas obras. Não existe nada mais incompatível com o Evangelho do que dizer que o homem pode satisfazer a justiça de Deus.



O que acontece, porém, no intervalo? O conceito clássico é que na morte as almas dos crentes são imediatamente glorificados. São aperfeiçoadas em santidade e entram imediatamente na glória. O corpo físico, contudo, permanece na sepultura, aguardando a ressurreição final.

No Antigo Testamento vemos claramente, através do exemplo de Saul em 1 Samuel 28, que busca uma mulher com o espírito de feiticeira para consultar a Samuel, tendo a certeza de que Samuel não dormia e sim estava em um estado consciente.

A necromancia foi condenada por Deus em Levítico 20.27, o que indica que a cultura do povo pagão, tanto quanto Judeu, acreditavam que os mortos estavam em estado consciente e por isso tentavam através de rituais pagãos consultar esses mortos.

No Novo Testamento Jesus na parábola do rico e Lázaro diz: “Aconteceu que morreu o mendigo,e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” (Lc 16.22). Cristo nunca usou comparações, ou parábolas com fatos mentirosos ou fantasiou nenhum dos seus ensinamentos. Fica claro que Jesus ensinou o real estado da alma de quem morre tanto em comunhão com Ele e quem morre na incredulidade.

Jesus também prometeu ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo nos paraíso” (Lc 23.43), a promessa para o ladrão é que ele estaria reunido com Cristo no Paraíso naquele mesmo dia.

O apóstolo Paulo também defendeu o estado consciente da alma em Filipenses 1:19-26 e 2 Coríntios 5:1-10.

Filipenses 1:19-26 “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé, Para que a vossa glória cresça por mim em Cristo Jesus, pela minha nova ida a vós.”

Paulo tinha a total consciência de que partindo, morrendo, ele estaria imediatamente com Cristo, e, para ele, isso era muito melhor.

2 Coríntios 5:1-10 “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.”

Paulo enfatiza novamente o desejo de deixar este corpo, para habitar imediatamente com o Senhor, pois estando no corpo, vivemos ausentes do Senhor.

O estado do crente depois da morte é diferente e melhor do que o experimentado nesta vida, embora não seja tão diferente ou tão abençoado quanto será na ressurreição final. No estado intermediário iremos experimentar a continuação da existência pessoal e consciente na presença de Cristo.

A provação da humanidade termina com a morte. Nosso destino final é determinado quando morremos. Não há esperanças para uma segunda chance de arrependimento depois da morte, e não existe nenhum lugar tal como purgatório para melhorar nossa condição futura. Para o crente, a morte é a emancipação imediata dos conflitos e problemas desta vida, quando então entramos em nosso estado de bem-aventurança.

Apesar de a morte trazer descanso para a alma e a Bíblia frequentemente referir-se a ela usando o eufemismo do “sono”, não é correto supor que no estado intermediário a alma dorme ou que permanecemos inconscientemente ou num estado de animação suspensa até a ressurreição final. viii

Claramente esse é o ensino das Escrituras, que a alma do crente depois da morte está consciente na presença de Cristo, qualquer outro ensino como o “sono da alma” ou a doutrina católica romana não tem respaldo bíblico que os sustente.

Em Cristo

Fernando Di Domenico


iCharles Hodge. “Teologia Sistemática”, 1. ed., Hagnos, 2001. p. 1555.
iiIbid. p. 1559.
iiiIbid. p. 1568.
ivIbid. p. 1569.
vIbid. p. 1571.
viIbid. p. 1571 e 1572.
viiIbid. p. 1572 e 1573.
viiiR.C.Sprol, Verdades essenciais da fé cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. Volume 2 (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), p. 91 e 92.

Um comentário:

  1. parabens pelo excelente texto, um assunto tão controverso esclarecido a luz das escrituras!

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