sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Pastor Bom É Pastor Que Visita. Será?


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Então, lhes propôs Jesus esta parábola: Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.
Lc 15.3–7

Há muita gente que usa esta parábola para mostrar aos pastores o seu dever de visitar. O problema é que esta parábola não fala dos pastores das igrejas cristãs. A parábola fala de Jesus (o pastor) encontrando os perdidos (ovelha perdida), e não dos pastores que devem visitar os membros afastados ou em pecado de sua igreja.

A parábola falar de como há alegria no céu “quando um pecador se arrepende”. A parábola fala clarissimamente de salvação. E Jesus é o “bom pastor” que veio até nós para nos resgatar. Usar esta parábola para pastores é uma ofensa a Jesus e um mérito alto demais para um simples pastor. Ou seja, a parábola não tem nada a ver com pastores visitando suas ovelhas afastadas.

O problema é que muitas pessoas foram “viciadas” em um modelo de “pastoreio” importado do sul dos Estados Unidos por pastores que chegaram no Brasil no início do século XX. Tais homens valorizavam mais as visitações, o cafézinho no final da tarde, o almoço com os irmãos, o aniversário de casamento, de nascimento, de batismo, etc., que o estudo da Palavra de Deus. 

É por isso que muitos acreditam que “pastor bom é pastor que visita”. Pastores devem visitar os membros de sua igreja? Não existe uma única resposta a esta pergunta. Dependendo da motivação de quem pergunta, a resposta pode ser sim ou não. Explico.

Se quem pergunta tem por motivação saber se é da essência do ministério pastoral visitar os membros de sua congregação, a resposta é NÃO. A essência do ministério pastoral é orar e pregar a Palavra de Deus. É isso que Pedro e Paulo entendiam (At 6.1-4; 1Tm 3.2; Tt 1.7-9).

Agora, se a motivação de quem pergunta é saber se o pastor, como um cristão, deve visitar, a resposta é SIM! O pastor visita não porque é pastor, mas porque é um cristão. No dia em que um pastor deixar de pastorear, ele deve continuar a visitar seus irmãos, pois a visitação não está ligada à função pastoral, mas ao modo como os cristãos vivem.

Uma igreja que deixa só ao pastor a responsabilidade de visitar é uma igreja doente. Além de sobrecarregar seu pastor, impedirá que ele tenha tempo para estudar e preparar a pregação da Palavra (At 6.4), que ele tenha tempo de orar por si e pela igreja, e que ele tenha tempo com sua família. Ele não desempenhará bem o seu papel e não ficará mais que 5 ou 10 anos em uma mesma igreja. Igrejas matam pastores e a si mesmas quando cobram deles o que não é sua principal função.

Um pastor que dedica tempo em sua agenda para orar é tão raro quanto notas de R$ 1,00 ou churrasco de canguru. A crise que vivemos na igreja moderna se dá pelo fato dos pastores não estarem se dedicando ao que mais deveriam: a oração e o estudo da Palavra de Deus. 

É possível encontrar pastores que acreditam que orar é perder tempo. Que separar momentos em sua agenda para orar pelos membros de sua igreja é desperdiçar tempo precioso junto das ovelhas. Mas, é isso que o Senhor espera dos seus? O que é que uma igreja deve esperar de seu pastor? Que ele visite ou que separe tempo em oração e preparação do alimento? Pregando o Evangelho, ou tomando café com os irmãos?

Pastores que acham que sua função é visitar pessoas são pastores mau instruídos. Pastores que acham que sua função é “dar a vida pelas ovelhas”, compreenderam muito, mas muito mal mesmo, qual é sua real função.

O que a igreja deve esperar de seu pastor? 

Primeiro, que ele se dedique ao Texto Sagrado, que estude, que leia a Bíblia, que leia bons livros. Uma igreja saudável deve exigir isso de seu pastor e investir em sua vida a fim de que não lhe faltem ferramentas para crescer em seu conhecimento das Escrituras. 

Segundo, deve exigir que ele ore pela igreja, que ore semanalmente pela vida de cada um que congrega consigo. Deve exigir dele um bom tempo a sós com Deus, orando por sua família, por sua própria vida, e pela vida dos membros da congregação. 

Terceiro, deve exigir dele que viva como um crente. Que dê bom testemunho, que fuja da aparência do mal, que visite como todo cristão visita, e que não negligencie sua esposa e filhos.

Segundo as Escrituras, visitar é dever de todo cristão. Ordens bíblicas como “aconselhai-vos uns aos outros”, “exortai-vos uns aos outros” e “orai uns pelos outros” demonstram que o aconselhar, o exortar e o orar junto, não é função do pastor, mas de todo crente. É somente quando este é negligente que a visitação acaba sendo deixada apenas aos pastores. 

Pastores que gastam mais tempo visitando do que orando e preparando o alimento das ovelhas é um pastor negligente e incoerente. Incoerente, pois não está seguindo o que o dono das ovelhas disse que era para fazer com as ovelhas dele. As ovelhas de Cristo deveriam ser alimentadas e, alimentar ovelhas, custa dedicação e oração sobre Texto.

Preparar uma exposição bíblica custa tempo sobre o Texto Sagrado, custa lágrimas, algumas vezes, horas de estudo e oração para que o Senhor o capacite. Custa um bom tempo em oração pedindo a Deus que o use na hora de expôr o texto, e que lhe dirija no que dizer, nas aplicações e nas ilustrações. E isso não tem a ver com boa oratória, mas com unção. Boa oratória, qualquer demônio tem. Unção, somente quem busca o Senhor e se prepara para a glória de Deus possui.

Wilson Porte

Fonte: http://www.wilsonporte.org/

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